E se você fosse embora para sempre?
Por 10 anos eu morei em Brasília, mas apenas no último ano eu conheci o lugar de verdade. Atrações turísticas, bares, restaurantes, aprender a andar de bicicleta e descobrir o eixão, esplanada e parque da cidade com novos olhos. No último ano, pude conhecer e me permitir fazer tudo que eu negligenciei por quase uma década.
Eu costumo acreditar que tudo tem seu tempo para acontecer e nada nesse nosso caótico universo, acontece sem que todas as arestas estejam aparadas, mas é impossível não pensar “Por que só agora? Por que eu abri mão disso tudo?” ou lamentar não poder curtir mais as belezas que estavam escondidas de mim.
Por outro lado, seria muito frustrante partir sem ao menos ter a chance de conhecer os lugares ou fazer novas atividades.
Para mim, mudar de cidade ou estado é como morrer…Seus amigos, seu trabalho, tudo fica para trás e você simplesmente desaparece. A chegada na nova cidade é como um renascimento…aprender a andar, falar, formar novos vínculos e descobrir como se virar.
Agora que estou prestes a “morrer” em Brasília, um sentimento de urgência me invade. Cada minuto conta, cada pôr do sol fantástico, cada almoço no lugar que eu gosto, cada vez que eu olho pela janela, cada pedalada…
Brasília sempre vai estar aqui, eu sempre poderei voltar como turista (assim como quando sonhamos com um ente querido já falecido que vem nos visitar em sonhos), mas fica a reflexão: Por que damos mais importância às coisas só quando sabemos que vamos morrer ou nos despedir? Por que deixamos para viver mais intensamente quando a dona morte se apresenta e nos coloca como prioridade?
Como diria Lulu Santos, até quando vamos viver como uma mola encolhida?